Quando decidi escrever a história do Wladimir, pensei em algumas coisas: contar a trajetória de um amigo querido, mostrar sua competência e talento dentro de campo, apresentar ao leitor em geral um painel de um período histórico importante na vida do nosso país, através do futebol (décadas de 1960, 70 e 80).
Mas, no fundo, eu queria mesmo oferecer às pessoas a beleza da luta de um grande ser humano. Sim, porque o Wla, desde cedo, compreendeu que lutar era a única saída para um cotidiano áspero e feroz. Pobre e negro, filho de pedreiro e de faxineira, ainda na infância percebeu que teria de lutar em dobro por causa da cor da pele. O Brasil hospitaleiro, do samba, futebol, cerveja e alegria já era preconceituoso e racista – sempre foi, desde a chegada dos primeiros europeus à terra dos indígenas.
O Wla fez do futebol seu instrumento para poder ter voz. E quando a gente percorre a sua história, fica claro que ele buscava a liberdade o tempo todo, nas discussões para a renovação dos seus contratos, na tentativa de convencer os colegas de classe da importância do sindicalismo – juntos, ele dizia, “somos mais fortes e temos, portanto, mais chances de conseguir os nossos direitos”. Era ouvido, mas não necessariamente seguido.
Com sua fala tranquila e bem articulada, nunca dava as mesmas entrevistas e se posicionava diante de vários assuntos evitados pelos colegas de profissão. Quase não temos mais jogadores com “essa cabeça”, aqueles que jogam e pensam.
Meu amigo Wladimir jogou muita bola. Defendeu o Corinthians (sua casa) como poucos, enfrentou a hipocrisia de quem mandava nos clubes (a exceção foi o período da Democracia Corinthiana), a prepotência e mediocridade de quem dirigia o futebol brasileiro.
É pela beleza do futebol jogado, a coragem de se posicionar e pelos momentos de intensa alegria proporcionados a milhões de pessoas durante anos que eu te saúdo! E, neste 29 de agosto, em que você completa 68 anos de uma linda trajetória, te desejo muita saúde e amor, Wla. Do seu amigo Hélio.