Não faço parte dessa campanha “antiNeymar”. Pra mim, Neymar é um ser humano medíocre, que teve o caminho de vida traçado por seu pai (igualmente medíocre, mas esperto), ex-jogador frustrado, que viu no filho talentoso a oportunidade de se projetar ali e ganhar rios de dinheiro. O roteiro não difere muito do que fazem os atuais empresários ou agentes de jogadores. Talvez a diferença mais sensível e determinante esteja no amor que une pai e filho – e não naquilo que rege a relação agente-jogador/família.
Neymar, o atleta, vive num mundo paralelo, uma espécie de “Terra do Nunca”, onde é possível se permanecer criança para sempre. O problema é que na história do Peter Pan tudo é fantasia, enquanto na de Neymar as coisas se confundem com a realidade das pessoas “comuns”.
O camisa 10 da Seleção Brasileira nunca foi capaz de compreender seu próprio tamanho, a força que sua imagem tem no planeta em que a maior paixão é o futebol. Poderia se posicionar, no mínimo, sempre a favor daqueles que não têm voz, mesmo que não tomasse nenhuma atitude concreta em relação a eles. Já seria alguma coisa…
Mas isso sou eu que acho. Neymar não acha nada disso – ele está preocupado com seu próprio mundo, e, nesse mundo, futebol e ostentação ocupam lugar de destaque. Seu talento é incontestável, mas, aqui entre nós, será que ele ainda joga tudo aquilo?
Dia desses, diante de uma crítica que fiz ao jogador, meu filho Pablo o defendeu, argumentando que “ele está voando”. Pensei a respeito, mas cheguei à conclusão de que Neymar tem voado no campeonato francês, espécie de Série B do futebol europeu. Na Seleção de Tite, ele continua prendendo muito a bola, facilitando a chegada dos adversários e abrindo caminho para as entradas violentas – sim, reconheço que os árbitros têm sido pouco enérgicos, deixando de dar cartão amarelo (em muitos casos, vermelho) para os brucutus.
Matuto mais um pouco e chego à conclusão de que o próprio Neymar é um tanto responsável por isso. Pra quem não se lembra, a Copa disputada na Rússia, em 2018, o transformou em meme mundial – até as crianças se jogavam no chão por nada, simulando uma falta e zombando do craque.
Tite, como comandante da Seleção, devia parar de proteger Neymar e passar a tratá-lo como um adulto passível de críticas e sujeito a substituições quando estivesse atuando mal. Por isso, acho que continuamos a depender de Neymar, ao mesmo tempo em que uma molecada boa (Vinícius Jr., Rodrygo, Antony, Raphinha e Martinelli) se mostra sedenta de espetáculo transformado em gols.
Eu não tiraria Neymar do time, claro que não, mas cobraria dele uma postura mais altruísta, servindo seus companheiros de ataque e se aventurando a bater no gol, quando os adversários estivessem mais preocupados com os verdadeiros moleques do time. Mas acho que isso não vai acontecer.
Muito provavelmente por responsabilidade de Tite, todos os jogadores da Seleção prestam reverência a Neymar, defendendo-o incondicionalmente, como se ele fosse Pelé. Aliás, o Rei está doente e merece cuidados imensos. E Neymar não é e nunca foi Pelé. Neymar é só Neymar.