Andar por aí como se não tivesse casa nem pai nem mãe, filhos, muito menos um amor.
Eu amaria então todos os seres humanos que encontrasse pela frente – uns mais, outros menos.
Pensando bem, não; tem gente que eu adoraria evitar. Assim, atravessaria a rua.
Mas se eu encontrasse você, faríamos uma festa regada a abraços, sorrisos, gargalhadas e um banquete de memórias.
Viver de memórias é bom? Pra quem está preso (qualquer prisão), deve ser.
Mas pra quem tem condições de criar o novo, elas apenas dão cor ao que virou passado.
Arquiteto meu novo caminho velho, a estrada da literatura e da poesia.
A poesia veio comigo até a Terra – a música também. Deve ser por isso que me recuso a cair.
Hoje coloquei mais um tijolo na parede que levanto. Amanhã coloco outro, e no dia seguinte mais um.
Encontrar pessoas com a cabeça arejada tem sido um desses tijolos nos últimos tempos. Elas me ajudam a seguir acreditando que vale a pena voar em meu próprio país – este país é meu e seu. Ainda que eles digam que não.
A tribo das trevas que se intitula “gente de bem” (todos devidamente armados) acha que o poder é eterno (curioso: todos que chegam lá pensam a mesma coisa…). É preciso avisá-los que não é, que o poder também se dissipa, escorre pelas mãos.
E, um belo dia, o camarada que passou a vida sendo tratado como gado, se levanta, pois já não tem nada a perder. E então compreende que precisa se juntar para enfrentar essa “gente de bem” porque, afinal, ninguém olha por ele – nem mesmo as grandes togas da Ilha da Fantasia.
Você tem construído uma casa dentro de você? E como anda a sua vida?
Mande notícias, aproveite seu dia como se fosse o único de sua existência. E me chame pra gente conversar e trocar ideias sobre os dias e as noites atuais. Podemos até discutir quanto à melhor maneira de vivê-los: ultimamente, tenho sentido certa dificuldade em respirá-los com desenvoltura – até as madrugadas, que eram minhas cúmplices adoráveis, estão reclusas.
As ruas ainda estão um tanto quietas, mas logo estarão repletas de gente, um povo doido pra festejar a liberdade e sentir que, além de pai, mãe ou amor, tem um país inteiro para abraçar e defender.
Feliz aniversário, linda flor!