Cássio, de braços abertos, e os rojões que explodiram no gramado
As chamadas torcidas organizadas do futebol brasileiro estão cheias de poder. São alimentadas materialmente pelos clubes e se sentem respaldadas ao invadir centros de treinamentos para cobrar e ameaçar atletas. Na verdade, os dirigentes não as repelem; pelo contrário, recebem seus integrantes raivosos como “gente de bem”… No estádio se sentem como deuses – da violência. Alguns jogadores já revelaram que, após uma vitória, podem sair com suas famílias para jantar. Mas, no caso de derrota, ficam em casa – na melhor das hipóteses, sem receber ameaças pelo celular. Willian, que defendeu o Chelsea durante anos e tinha retornado ao Corinthians, foi embora no ano passado, após receber ameaças de “torcedores”. Voltou para a Inglaterra – ele e a família acharam que se continuassem por aqui provavelmente viveriam uma tragédia.
Nos anos 1960 e 70, íamos ao estádio e, mesmo torcendo para times diferentes, podíamos sentar todos juntos. As “ameaças” entre torcedores eram gozações em que todos se divertiam. E, contra os jogadores, “a pior coisa” eram os xingamentos. Terminado o jogo, cada um ia pra sua casa.
Ontem, na Vila Belmiro, a casa onde Pelé reinou durante duas décadas, vimos ódio no rosto de “torcedores” e cenas de barbárie. Rojões foram disparados na direção dos atletas – de novo, Cássio, goleiro do Corinthians, foi um alvo preferencial. Mas a revolta dos “torcedores” era mesmo contra os jogadores do Santos, que não vêm jogando nada.
Pergunto: como as dezenas (centenas?) de rojões entraram no estádio? Quem “revistou” os “torcedores”? Por que a Polícia Militar não deslocou um efetivo bem maior para a partida? Ela sabia que o risco de haver uma tragédia era alto – na noite anterior, o ônibus da delegação corintiana foi cercado e não conseguiu estacionar no hotel. Teve que dar meia volta, retornando a São Paulo. Eu nunca tinha visto algo assim.
A última pergunta: vai ficar por isso mesmo?