Teus 60 anos podem ser entendidos como 300. Porque as vidas que você viveu foram tão intensas e diversas que precisariam desses três séculos. Então, pra começar, parabéns por todos os mares que atravessou ao longo desse tempo, Casão.
Sua história no futebol brasileiro conta muito sobre os últimos anos de um período histórico complexo e brutal ocorrido no país. Naquela época você não tinha a consciência de hoje, mas agia intuitivamente, alicerçado em valores aprendidos na infância – mãe, pai, irmãs, amigos e, certamente, outras pessoas que também não conheci.
Viveu como atleta as glórias de títulos importantes e de vitórias espetaculares, mas guardou dentro de si talvez a maior conquista que um jogador de futebol poderá ter experimentado. O projeto que ficou conhecido como “Democracia Corinthiana” não foi um mero movimento. Você foi atraído pelo então sociólogo Adilson, se juntou a Wladimir, Sócrates, Zé Maria e Eduardo e ajudou a inventar uma nova relação de trabalho no mundo do futebol. Acho que nem tinha muita consciência da importância do que estavam fazendo, mas sabia que valia a pena ser vivido.
Aquilo que vocês realizaram durante dois anos e meio foi histórico, mas não deixou herança entre os que continuaram a engrossar a profissão. A Democracia Corinthiana não se alastrou porque “contou” com o medo dos atletas e foi afogada pelos cérebros retrógrados que comandavam o futebol naquele período. Eles ainda estão por aí, apenas vestem roupas diferentes. E os jogadores, cada vez menos preparados e cercados pelos chamados “agentes”, sucumbem ao caminho dourado que salvará a vida deles e da família toda.
É compreensível, assim como dá pra entender que o que vocês viveram foi único na história do futebol mundial – só isso já tem um valor incomparável. E, também por isso, de novo, te dou os parabéns por ter participado de algo tão precioso e até hoje celebrado como uma das alternativas mais inteligentes para as relações de trabalho.
Mas, Casão, continuemos a lutar porque a trincheira, meu camarada, essa não poderá ser destruída. E a luta, no fundo, é o que nos alimenta na busca pela democracia e pela justiça social – em todos os setores da vida em nosso país.
Grande abraço e viva as tuas seis décadas! ⛵