ADÍLIO E A MÃO ESPALMADA

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Cheguei, me apresentei na portaria, entrei e escolhi um lugar para aguardar. A Gávea, como sempre, fervilhava de gente, mas naquela tarde reinava a calmaria. Então surgiu o Andrade – nos cumprimentamos, e, antes mesmo que eu pudesse me sentar à sombra de uma árvore, o Adílio apareceu. Jeitão tranquilo, simples, dono de uma suave malandragem. Enquanto eu me calava de emoção (Adílio e quase todo o time do Flamengo entre os anos 1970 e 80 eram meus ídolos), percebi que ele não tinha ideia do tamanho que ocupava na história do nosso futebol. No fundo, acho que sabia sim, mas a humildade impedia “seu narciso” de aparecer. Na verdade, Adílio não tinha um narciso dentro dele – seu olhar era puro, sem qualquer traço de arrogância ou prepotência. E, talvez num gesto puro e espontâneo de autenticidade, ele comemorava seus gols com a mão direita espalmada, como se dissesse a todos: “Olá! Eu sou o Adílio!”

Nos gramados, o camisa 8 tomou conta do meio-campo, ao lado de outro monstro (Andrade) e de um gênio (Zico). Chegou a vestir a camisa da Seleção Brasileira, mas os anos 1970 e 80 eram recheados de meio-campistas espetaculares. E eles não deixaram Adílio ser titular. Pra mim, pouco importa: ele veio para ocupar o lugar de um dos meus grandes amores no futebol brasileiro, pela paixão de jogar, pela elegância, pelo deslizar no gramado: o maravilhoso Geraldo, também número 8. E, copiando quem já o disse, Adílio é infinito. Basta deitar o número 8, fechar os olhos e agradecer por tudo de belo que ele nos deixou. Boa viagem, meu craque! ⚽

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