A Lúcia foi embora. Preferiu assim, já não conseguia lidar com manhãs, noites e os tardes da noite. Ela foi uma mulher linda, com olhos grandes e uma fala doce, ternura pura a me aquecer na areia branca das praias da nossa adolescência, nas festas, nas trocas.
A Lúcia era contraponto num período da vida em que todos nós experimentávamos sem parar. Falava baixo, e isso às vezes parecia nos dizer que ela conhecia um lugar sobre o qual não tínhamos a mínima ideia.
Os anos 1970 foram potentes, nos entrelaçavam como raízes de árvores, tanto que até hoje muitos de nós permanecemos juntos ou por perto. Mas alguns pegaram trilhas que brotavam sutis nas estradas principais. Viraram finas artérias que não resistiram ao impacto das pressões, e o sangue secou.
A Lúcia é um tanto dessa “Time Table”, do Genesis. Às vezes, ela surgia do nada – ou do fundo de algumas dúvidas. E, sem alarde nem afetação, apresentava uma saída geralmente leve. Era uma época em que pulávamos as grandes pedras como se fossem países, enquanto, abaixo, o mar nos espreitava. A vida era simples.
Não sou capaz de me lembrar de outra Lúcia, apenas da que aprendi a ouvir e a respeitar durante os anos em que nossa tribo planejava mudar muitas coisas no planeta. Nossa adolescência construiu grande parte do que somos hoje, e ela foi uma das pessoas importantes nesse sonhar.
Lúcia doce, linda e suave. Leve a beleza que um dia fez explodir sobre mim e todas as sutilezas que você produziu em nosso viver – será importante pra quem te receber. Daqui, só te desejo muito amor e uma paz que lhe faltou nos últimos anos de sua passagem pela Terra. ⛵