A BOLA DA HORA

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Nestes tempos em que temos muitas dúvidas e somos açoitados por quem nos desgoverna (até quando vamos aceitar tudo o que nos é empurrado goela abaixo?), busco alegrias e prazeres possíveis. Jogar bola é um (a) deles (as) – e jogar com os filhos, algo muito grande.

Aos 65, testando os limites do próprio corpo físico, após praticamente dois anos sem jogar, tento compreender o que dá e o que não dá mais. Importa agora o prazer de um passe longo bem dado, a matada no peito sem que a bola escape ou o corpo se desequilibre, a alegria de um golaço em que a bola beija a rede lá em cima, no ângulo inimigo do goleiro.

Ontem à noite vivi mais uma dessas alegrias, batendo bola num campo de soçaite, entre amigos cujas idades variam dos 20 aos 45. A exceção era meu filho caçula, ainda com 16 quase 17. Depois dos primeiros cinco minutos, parecia que eu ia morrer, tal a falta de fôlego. Mas, depois, a cancha e eu fomos nos reconhecendo, e ela aceitando algumas das minhas vontades.

Afora a questão da saúde (sim, venho enganando a mim mesmo, fazendo peso e pulando uma corda bem sem vergonha), a “vitória” que me interessava era a satisfação de evitar uma contusão (Sócrates vivia dizendo que, à medida que ficávamos mais velhos, o risco de nos machucarmos aumentava consideravelmente, claro). A outra, que me proporcionou um sono profundo, foi a alegria de ter compartilhado uma hora e meia de felicidade junto com meu filho Martín.

A inexorável ação do tempo nos ensina a humildade, entre várias outras coisas. E nos leva a um lugar onde o fundamental é sempre ser feliz – e não ganhar um jogo a qualquer custo.

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