Acabei de ver a minissérie “O Ninho – Futebol e Tragédia”, dirigido pelo ótimo Pedro Asbeg. Dá vontade de vomitar. O que esses “dirigentes” do Flamengo fizeram e vêm fazendo ao longo destes cinco anos é digno de sentirmos vergonha da própria espécie. E nenhum deles se salva. Desde Bandeira de Mello (presidente que arrumou as contas rubro-negras e deixou o clube no final de 2018) até Rodolfo Landim (atual mandatário), amigo do Jair e o primeiro a correr para o colo do ex-presidente a fim de colocar o time em campo em plena pandemia de covid, enquanto cidadãos comuns morriam no hospital de campanha montado junto da arena rebatizada de Maracanã. Um tal Marcelo Helman, diretor executivo de administração do Flamengo, teve papel decisivo no que eles chamam de “tragédia”: informado de que o alojamento dos garotos da base oferecia riscos graves (entre eles, o de incêndio, por causa das inúmeras gambiarras elétricas), respondeu a quem elaborou o laudo técnico que não se deveria fazer nada, mesmo porque os garotos seriam transferidos para o antigo alojamento dos jogadores profissionais “até o final do ano”. Ou seja, ele sabia do perigo e não deu bola – decidiu, portanto, correr o risco. Na época (maio de 2018), Bandeira de Mello foi informado, assim como soube dos seguidos autos de infração direcionados ao clube e assinados por ele. Mas na CPI da Assembleia Legislativa do Rio, disse que nem tudo chegava ao conhecimento dele. Cínico. Já Landim, ao ser questionado por que nunca dirigiu uma só palavra de conforto aos familiares dos dez garotos mortos no incêndio, respondeu que seus advogados não o deixavam fazê-lo. Outro cínico. E em seu pronunciamento inicial à imprensa, na época do crime, disse que não conseguia falar porque estava “consternado” e aquele era um momento muito difícil. E se retirou da sala. É o caso de perguntar: o momento era difícil, Landim? E como você definiria esse momento que já dura cinco anos para os familiares dos garotos mortos?
Das dez famílias, nove aceitaram os valores definidos pelo Flamengo – cansados e torturados por um sofrimento que não tem fim, acabaram recebendo o dinheiro, certamente bem abaixo do que pleiteavam. Aliás, é o caso de se perguntar: qual o valor monetário de uma vida?
A única família que ainda luta na Justiça é a de Christian Esmério, goleiro do clube que já havia alcançado a Seleção Brasileira e estava com o caminho aberto para o profissionalismo do Flamengo – ele faria 16 anos em um mês. Seus pais, Andréia Cândido de Oliveira e Cristiano Esmério de Oliveira, conseguiram uma vitória no mês passado, quando o juiz André Martins (Vara Cível) definiu o valor de R$3 milhões a serem pagos à família pelo clube, além de uma pensão de R$7 mil para o casal. A justiça brasileira é uma graça, tanto que ainda cabe recurso. Que indecência…