A Espanha venceu a Inglaterra por 1×0 e conquistou a Copa do Mundo de futebol feminino, pela primeira vez. Demonstrou mais garra e jogo coletivo superior diante de uma equipe que congestionava o meio-campo e, mesmo assim, sofria seguidos ataques perigosos.
Mas a grande notícia da final da Copa, disputada em Sydney, Austrália, estava no palco da cerimônia de premiação das atletas. Quando recebia sua medalha de ouro e cumprimentava dirigentes do “mundo do futebol”, a maior artilheira da Seleção Espanhola, Jennifer Hermoso, recebeu um beijo na boca de Luís Rubiales, presidente da Federação Espanhola de Futebol. Quando foi para o vestiário, Hermoso disse numa entrevista que não gostou, mas “o que eu poderia fazer ali?”. E Rubiales, diante da repercussão negativa que atravessou os oceanos, pediu desculpas na marra, sem querer fazê-lo.
O texto que subscrevo (abaixo) é de Manuela d’Ávila, deputada federal.
”O que o beijo forçado em Jenni Hermoso na final da Copa do Mundo Feminina nos revela?
“Jenni é a maior artilheira da história da seleção espanhola, a terceira melhor jogadora do mundo e, no momento do assédio, estava na cerimônia de premiação da Copa, recebendo a medalha de ouro pela vitória de sua seleção. Para milhares de meninas e mulheres, ela é uma inspiração; para homens como Rubiales, ela é como todas nós, uma mulher, um pedaço de carne, alguém cuja vontade não está em discussão. Para homens assim, não importa se a mulher é uma jogadora de futebol que acabou de vencer uma copa do mundo, uma professora, uma escritora ou uma dona de casa… Muito menos se ela estava com short curto ou calças. O problema não é o comportamento da vítima, e sim de quem usa do seu poder para abusar.
“O caso de Jenni não é isolado. Por isso, não podemos nunca recuar da luta contra a violência de gênero!”
Acrescento apenas que o mundo está mudando com muita velocidade, e as mulheres estão cada vez mais engajadas na luta (desigual e feroz) pela igualdade de direitos e condições. A grande maioria dos homens (pelo menos, assim parece) não quer ver, porque ver significa aceitar. E aceitar dividir poder e controle não faz parte do jogo deles. Mas, cedo ou um pouco depois, terão de se submeter à realidade dos dias e das noites.